sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

#crítica 2

 O Ano da Morte de Ricardo Reis

de João Botelho

Beatriz Campos 12ºC | Escola Secundária Dona Luísa de Gusmão


O filme O Ano da Morte de Ricardo Reis, realizado por João Botelho, é baseado no livro de José Saramago com o mesmo título, e decorre em Lisboa no ano de 1936, quando Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa) regressa à capital depois de 16 anos exilado no Brasil.

A época de regresso de Reis não é fácil, pois é a época de todos os males extremistas de Mussolini e Hitler na Europa, também da guerra civil espanhola e claro, do Estado Novo de Salazar, em Portugal.

À medida que a ação se desenrola Fernando Pessoa vai ao encontro da pessoa que criou e cada vez mais próximos, Pessoa diz ter o tempo de aparição igual ao tempo de um bebé na barriga de sua mãe, rapidamente consolado pela sua possibilidade de acompanhar a vida de Ricardo Reis ao longo dos seguintes meses.

Entre amores e desamores, é no Hotel Bragança que Reis encontra duas paixões; Lídia, a sua fiel criada com o nome que o fez logo palpitar o coração e Marcenda, filha de um homem importante, onde os valores e a integridade falam mais alto e tornam o amor entre os dois platónico.

João Botelho foi um realizador ousado e demonstrou bastante bem a época histórica vivida entre Lisboa e a Europa de então. O contraste cromático a preto e branco, bastante simbólico, resultou de forma eficaz.
Apesar de considerar que se tem de conhecer tanto a obra literária de José Saramago como a de Fernando Pessoa e do seu heterónimo presente para o filme ser entendido e observado com outros olhos, João Botelho conseguiu passar aos espectadores, de uma forma de certa maneira fácil, a simbologia de todos os autores que deram vida ao livro.

Num olhar mais negativo e pessoal, algo que ficou muito aquém das expectativas foi a personalidade de Reis, que passa muito pela sua personalidade mulherenga e egoísta bastante diferente da sua escrita e que o torna outra pessoa no ecrã.

De resto, a nível de simbologia, o filme resulta, conseguido nas falas e gírias das personagens da época em questão, ao sotaque de Ricardo Reis, bem pensado, graças ao seu exílio de mais de uma década no Brasil.

Aconselho a visualização do filme, não só por ser uma obra literária importante, mas porque foi muito bem adaptada ao ecrã, podendo ajudar a muitos a entender melhor o livro ou até mesmo a complementar a leitura da obra.

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